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18 de julho de 2025 Rio do Sul

Jumento brasileiro está em risco de extinção por demanda chinesa por colágeno

No Brasil, total de indivíduos caiu de 1,37 milhão para pouco mais de 78 mil entre 1996 e 2025


Por Giulia Bibow Publicado 26/06/2025 às 14h55
Jumento brasileiro está em risco de extinção por demanda chinesa por colágeno
Jumento brasileiro está em risco de extinção por demanda chinesa por colágeno – Foto: GettyImages/BBC

A crescente demanda chinesa por colágeno extraído da pele dos jumentos — utilizado na produção do ejiao, medicamento tradicional — provocou nos últimos 20 anos uma redução drástica da população desses animais no mundo, inclusive no Brasil.

Estima-se que mais de 1 milhão de jumentos tenham sido abatidos entre 1996 e 2025 no país, o que diminuiu a população de 1,37 milhão para cerca de 78 mil — uma perda de 94%, de acordo com a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos.

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Risco de extinção até 2030

Conforme o professor Pierre Barnabé Escodro, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), se o ritmo de abates se mantiver, os jumentos “não chegariam a 2030” no Brasil. Esta preocupação está no centro da 3ª edição do evento Jumentos do Brasil, que começa nesta quinta-feira (26) em Maceió, reunindo cerca de 150 especialistas nacionais e internacionais.

“O jumento está em risco de extinção em vários países. No Egito, praticamente não existe mais… o movimento pela conservação é global”, enfatizou Escodro.

Abates recentes e falhas no controle

Atualmente, três frigoríficos na Bahia têm autorização do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para abate de jumentos. No entanto, especialistas criticam a ausência de rastreabilidade, o que dificulta o controle sanitário e abre margem para maus-tratos. O processo é considerado extrativista e insustentável.

Um estudo publicado em Animals revelou que jumentos destinados ao abate apresentavam inflamação sistêmica, evidenciando falhas graves no bem-estar animal.

Desde 2019, algumas licenças já chegaram a ser suspensas pela Justiça logo após denúncias.

A polêmica no Congresso e na Bahia

Em 2022, um projeto de lei na Bahia tentou proibir o abate da espécie, mas foi rejeitado em abril por parecer do deputado Paulo Câmara (PSDB), que defendeu a atividade como regulamentada e relevante economicamente. O parecer afirmou que não havia risco de extinção. A decisão motivou críticas de grupos de conservação.

A assessoria do deputado reforçou que a atividade é legal, técnica e economicamente fundamentada, sem negligência ao bem-estar animal.

Impactos no Brasil e no mundo

Ainda em 2021, reportagens destacaram que, em Amargosa (BA), o comércio de jumentos que antes valiam R$ 100 passaram a custar até R$ 500 devido à escassez, e que a pele para ejiao chegava a US$ 4 mil o quilo.

Além disso, a ONG The Donkey Sanctuary estima que 5,9 milhões de jumentos sejam abatidos anualmente, gerando um mercado de US$ 6,38 bilhões.

No Quênia, o roubo de jumentos para retirada de pele afeta o sustento de comunidades rurais, especialmente mulheres.

Santuários e estratégias de preservação

Pesquisadores propõem reintegrar o jumento à agricultura familiar, terapias assistidas (jumentoterapia) e pastoreio. Surgem ainda iniciativas de santuários no Brasil: Jericoacoara (CE) abriga cerca de 700 animais, enquanto em Santa Quitéria (também CE), um abrigo do Detran mantém entre 1,2 mil e 1,3 mil jumentos.

“Isso fortaleceria o combate à extinção no médio prazo”, avalia Escodro.

O projeto de lei 1.973/2022, em tramitação no Congresso, defende a proibição nacional do abate. Então, está no ar o site Fim do Abate, mobilizando apoio à causa.

Importante lembrar que a União Africana aprovou em 2024 um moratória de 15 anos para o abate de jumentos com foco na pele.

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