Entenda o impacto dos incêndios nas estufas de fumo: prejuízos vão muito além da perda da safra
Comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Ituporanga explica as principais causas dos incêndios e como preveni-los
Nos últimos dias, o Grupo de Comunicação Difusora noticiou dois incêndios em estufas de secagem de fumo, um caso aconteceu em Petrolândia e o outro em Agronômica. Além das perdas na safra, os prejuízos para os agricultores são significativos.
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Um exemplo é o de Lucélia Weiss Rossi, agricultora que viu o trabalho de uma vida ser consumido pelo fogo em poucos minutos. O dia 14 de novembro de 2023 ficará marcado por essa tragédia. Lucélia ainda tenta encontrar palavras para descrever o impacto ao ver o incêndio se espalhar.
A gente não sabe nem explicar, é horrível. É uma coisa, assim, que é rápido, sabe? Em questão de minutos tinha fogo no galpão todo, que a estufa era para o lado de fora do galpão, tinha um metro só e consumiu um galpão em duas estufas em instantes.
disse Lucélia.
Desesperada, ela correu até o galpão, mas as chamas já haviam se alastrado. Lucélia não conseguiu retirar o trator e, em busca de ajuda, pediu socorro a motoristas que passavam pela SC-350, na Barra do Rio dos Bugres, interior de Petrolândia. Os prejuízos estão estimados em cerca de 500 mil reais.
Implementos, rotativa de plantar cebola, espalhador, duas motos de trilha, três bicicletas, motosserra, três roçadeiras, aí caixa de cebola, 50 caixas, pano de tampar fumo, garrafa d’água, E muita chave, todas as chaves que precisava para implementos, sabe? Gerador, três vaporizadores motorizados, a nogueira, a furadeira, parafusadeira, subsolador. Tanque de passar veneno, 100 canos de irrigação, mais uns 10 bicos de irrigação também, 600 bandejas. Eu tinha lá no rancho lata de banha, sebo, tinha aspirador de pó, lava-jato. Um lava-jato eu tinha ganhado numa rifa e levei, me entregaram de manhã. No dia do incêndio e a tarde pegou fogo, eu nem tirei da caixa. Soldador, a gente tinha, daquele de encher pneu, machado, martelo. A gente tem que comprar tudo de novo.
afirma Lucélia.
Conforme o tenente Wegner, comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Ituporanga, as estufas de fumo armazenam grandes quantidades de folhas de fumo. Devido ao aquecimento necessário para o processo, esses ambientes se tornam altamente inflamáveis, tornando-se propensos a incêndios.
Essas ocorrências podem ser causadas por diversos fatores, mas ao realizar as investigações desses incêndios que acontecem, principalmente, aqui na região do Alto Vale, a gente pode concluir que a causa provável, a principal situação recorrente está nas fornalhas ou então em alguma falha no sistema de ar forçado delas. Claro também que não se pode eliminar situações de falha no sistema elétrico da edificação ou até mesmo alguma outra causa, como até possivelmente uma conduta criminosa. Mas, a grande maioria, com certeza, elas estão relacionadas ao sistema de aquecimento.
afirmou o tenente Wegner.
O tenente Wegner orienta sobre as medidas necessárias para prevenir incêndios nas estufas de secagem de fumo.
A primeira sugestão é que o produtor evite carregar muito a estufa, sempre coloca a quantidade de fumo compatível com a capacidade do local. A segunda sugestão, já que a maior causa de incêndio está nas fornalhas ou no sistema de ar forçado, a orientação é que o produtor sempre faça a revisão desse material antes de realizar suas estufadas. As peças, não dá para gente traçar, assim, qual frequência que o produtor vai precisar realizar, pois as peças não tem um prazo de validade, mas vai variar conforme o cuidado. O importante é que sempre o material esteja em bom estado. Outra grande causa está relacionada às instalações elétricas, então orientação do corpo de bombeiros é que as instalações sejam sempre feitas por profissionais habilitados e sempre estejam também em bom estado. Ainda assim, caso haja alguma falha nesses sistemas, digamos que aconteça um incêndio, uma sugestão para evitar é que o produtor ele separe seus galpões, criando um isolamento entre eles para que quando, por acaso, uma estufa vier a queimar, o produtor não vai perder sua produção por inteiro. O mesmo acontece com tratores e/ou maquinário agrícola, não deve ficar próximo das estufas. Se possível, o produtor também deve ter uma reserva de água para utilizar para fazer o primeiro combate numa situação de emergência. Em caso de emergência, a primeira coisa a se fazer é não entrar em pânico e acionar o Corpo de Bombeiros através do número 193 e aguardar por ajuda. Se o cidadão se sentir apto, a cena esteja segura, tendo algum material de combate a incêndio, é possível, sim, realizar o primeiro combate, mas sempre, claro, zelando pela sua segurança, pela sua vida em detrimento do patrimônio. O cidadão também pode tentar reduzir o seu prejuízo, retirando tratores ou algum outro maquinário que possa acabar se incendiando antes da chegada da ajuda, e o que vai reduzir o tamanho do seu prejuízo.
explicou o tenente Wegner.
Segundo a Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra), a produção do Alto Vale representa 10,8% da produção de fumo do Sul do Brasil. Durante a safra 2022/2023, foram registradas 115 estufas sinistradas, enquanto na safra 2023/2024 o número caiu para 107. Os sinistros incluem não apenas incêndios, mas também eventos como granizo, raios e tufões. Lucélia, destaca que levará anos para reconstruir e recuperar tudo o que o fogo consumiu.
A gente não conseguiu construir nem o galpão e nenhuma das estufas, por enquanto. A gente acha que vai demorar alguns anos para a gente conseguir tudo que a tinha, porque a gente está 25 anos casado, a gente foi comprando aos pouquinhos essas coisas, tudo que tinha. Eu acredito que vai uns 10 anos para conseguir comprar tudo aquilo que tinha, porque qualquer coisa que a gente vai comprar tá caro, sabe?
concluiu Lucélia.
Ouça a reportagem completa abaixo: