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18 de junho de 2025 Rio do Sul

Elas que fazem: o sonho e o negócio nas mãos das mulheres

Mais de 458 mil mulheres comandam empreendimentos em Santa Catarina; setor de serviços representa 58,8%


Por GCD Publicado 06/06/2025 às 16h26
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Segundo dados do observatório de negócios do Sebrae divulgados em 2025, mais de 424 mil mulheres lideram pequenos empreendimentos — o que representa 92,5% do total. Foto: Fernanda Vanzuita.

Hoje estou numa das minhas melhores fases, muito realizada com tudo que a gente conquistou

disse Fernanda Vanzuita.

Durante 25 anos, Fernanda Vanzuita viveu no ritmo acelerado da cidade. Atuava na produção de artefatos de couro — começou nas montagens e, com o tempo, passou a liderar equipes. O emprego estável, o salário regular e a rotina urbana pareciam suficientes. No entanto, o coração apontava para outro caminho: o sonho e o negócio no campo.

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Em 2018, ao lado do marido, ela decidiu ouvir esse chamado. Deixou a cidade para trás e abraçou a vida no meio rural. Foi em um sítio de dois hectares, em Ibirama, no Alto Vale do Itajaí, que iniciou o cultivo de morangos. Pouco tempo depois, transformou a propriedade em um espaço de acolhimento, com hospedagem rural e contato direto com a natureza.

Através de uma reportagem inspiradora sobre morangos, acendeu o interesse de ir atrás de conhecimento para começar os nossos primeiros cultivares de morango. Desde o início já deu muito certo e fomos agregando valor. A nossa ideia sempre foi ter mais cultivares. Aonde que comecei a ir atrás também de pitaya, a gente foi atrás de conhecimentos, plantamos pitaya. Nós também temos uma pequena plantação de uvas, temos de maracujá e de amora. Então, trabalhamos com fruticultura desde 2018

comentou Fernanda.

Fernanda, hoje com 43 anos, afirma que trabalhar com o turismo é um cultivo para a alma ao ver os visitantes partirem sorrindo do chalé. O caminho não foi simples. O medo do incerto e o desafio de começar do zero dividiram espaço com o amor e a vontade de fazer dar certo. 

No começo era tudo muito incerto, mas com amor, dedicação e muito trabalho a gente conseguiu. Tudo que no mural entrou para nós através de uma palestra inspiradora, então apostei em hospedagem e deu muito certo. Tanto trabalhar com a fruticultura quanto com o turismo, nós tivemos um propósito, e o nosso propósito é fazer o bem. Cultivar produto, alimento, é um combustível para o ser humano, e trabalhar com turismo é um combustível para a alma. Ver as pessoas saírem daqui renovadas e felizes é o nosso maior presente. A consequência vem em dinheiro, né? Que todo mundo tem que pagar os seus boletos

abordou Fernanda.

Segundo Fernanda, sua renda atual é pelo menos três vezes maior do que na época em que atuava como colaboradora.

Na lida com a terra, a empreendedora aprendeu que plantar vai muito além de semear. A agricultura ensina, que nem sempre o esforço garante a colheita. O clima, imprevisível, pode apagar em horas o trabalho de uma safra inteira. Assim, diante dessas incertezas, ela enxergou um novo caminho: o turismo rural.

Trabalhar com agricultura, percebi que assim não é fácil, porque vejo que os resultados não dependem só da gente. Mesmo a gente fazendo tudo certo, caprichando, fazendo tudo certinho, a gente depende do clima. Às vezes o clima não colabora, muita chuva, muito calor, então isso afeta diretamente os nossos resultados. Tanto que foi por causa disso que apostei no turismo rural

explicou Fernanda.

Aprender antes de agir: o caminho certo desde o início


Fernanda entendeu que o tempo custa caro e o erro tem preço alto. Não havia espaço para tentativas em vão — cada passo precisaria ser certeiro. Foi com essa consciência que ela decidiu que antes de começar precisava aprender.

Então, em questão do turismo rural, para mim já deu certo de cara, porque comecei certo, sabe? Claro que eu não tinha muita noção das redes sociais, de divulgação, mas fui atrás de conhecimento constante, para divulgar, porque quem não é visto não é lembrado

declarou Fernanda.

A força de quem planta o sonho e o negócio e colhe resultados


Fernanda não está sozinha. Em Santa Catarina, mais de 458 mil mulheres comandam os próprios negócios. De acordo com dados do observatório de negócios do Sebrae divulgados em 2025, mais de 424 mil delas lideram pequenos empreendimentos — o que representa 92,5% do total

Na fruticultura ou no turismo, essas mulheres enxergam mais que sobrevivência. Elas veem propósito. Transformam suas casas em pousadas, o pomar em roteiro turístico, o café da tarde em experiência de memória. O campo, antes cenário de rotinas duras e apagadas, se torna palco do protagonismo feminino.

Turismo rural: do improviso à identidade empreendedora


O crescimento do turismo rural no Alto Vale do Itajaí revela esse movimento. O Circuito Caminhos do Campo, criado em 2018 com 18 propriedades, hoje soma 62 — um salto de 244% até 2024. Para este ano de 2025, ao menos 13 novos empreendimentos devem se juntar à rota. Na maioria das propriedades, são as mulheres que recebem, decoram, cozinham e fazem da visita uma experiência única.

Em Santa Catarina, 58,8% dos empreendimentos estão no setor de Serviços, onde o turismo se insere.

Conforme a turismóloga e assessora de turismo da Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (Amavi), Fabiana Dieckmann, o olhar feminino transforma o ambiente.

No turismo rural da nossa região, a gente sente o protagonismo das mulheres. Temos aí vários empreendimentos liderados por elas. Também quando o turismo é gerido pela família, se sente esse protagonismo feminino, porque o olhar feminino sempre dá aquele detalhe diferenciado em uma propriedade rural e traz todo um acalento para uma decoração específica, para um toque especial

disse Fabiana.

O sonho e o negócio: empreendedorismo feminino avança como escolha estratégica e cultural

Cada vez mais, mulheres escolhem empreender não apenas por necessidade, mas como um gesto de autonomia e reinvenção. Desse modo, o empreendedorismo feminino deixou de ser uma simples alternativa diante das barreiras do mercado formal. Hoje, ele representa uma decisão consciente — portanto, um passo em direção a uma vida com mais propósito e liberdade.

De acordo com o professor e doutor em sociologia política pela UFSC, Gregório Unbehaun Leal da Silva, esse movimento é resultado de múltiplas causas. 

Oempreendedorismo feminino é uma alternativa estratégica para as mulheres, né? Uma forma de se libertar, né? Mas também a gente tem um aspecto que a gente pode chamar de comportamental, eu gosto mais da expressão dimensão cultural. A gente pode resgatar um autor muito importante, que é o Ronald Inglehart, ele fala que nós estamos vivenciando no mundo todo uma chamada revolução silenciosa, que é uma transição de valores materialistas para pós-materialistas, onde os, especialmente os mais jovens, mas também as mulheres, priorizam autonomia e auto expressão sobre segurança tradicional. Não é apenas então sobre necessidade econômica, mas sobre uma redefinição dos papéis de gênero e a busca por uma realização pessoal mais profunda que apenas o emprego formal

explicou Gregório.

Conforme o sociólogo, se trata de um processo contínuo e sem volta. 

Porque este é um fenômeno que vai se espalhando na sociedade. Então o empreendedorismo feminino é um fenômeno muito ligado a isso, porque as mulheres buscam no empreendedorismo uma visão de mundo para além do simples eles, ganhar dinheiro, viver uma vida mais normal, como uma vida para além, com novas experiências. Esse processo vai se tornando o novo normal, porque essas transformações vão se tornando tão expandidas ao longo de toda a sociedade que daqui a pouco isso é o novo normal

concluiu o sociólogo.

Por fim, o campo já não é mais apenas o lugar da lida silenciosa. É também espaço de inovação, renda, assim como, liberdade e escolha. E cada mulher que planta uma semente ali, planta também um novo futuro, para si e para sua família. 

Ouça abaixo a reportagem completa sobre o empreendedorismo feminino:

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